“É hora de levantar o véu sobre a questão demográfica, não de ceder ao catastrofismo, mas de construir respostas adequadas.”
Há algum tempo, um mal-estar se instala silenciosamente nas associações: as agendas estão ficando vazias, as equipes esportivas estão com dificuldades para preencher vagas, os voluntários estão escassos e os escritórios administrativos estão com dificuldades para se renovar. Esse fenômeno não afeta apenas os esportes e as associações; pode ser observado em todos os setores-chave da vida local. As partes interessadas estão percebendo isso e expressando-o claramente.
Assim, fui alertado no meu distrito eleitoral de Mosela para o fato de que, "pela primeira vez, temos vagas em creches". O simbolismo é poderoso. O que faltava ontem devido à falta de infraestrutura, falta hoje... devido à falta de crianças.
Os trabalhadores de campo são os primeiros a perceber esses desenvolvimentos. Os sinais que eles detectam — às vezes tênues — são tudo menos fracos: são alertas que devemos ouvir e transmitir coletivamente, revelando até que ponto as mudanças demográficas estão afetando a estrutura da nossa comunidade.
Ignorar essas realidades é ignorar as fontes de um problema muito mais profundo. Como podemos imaginar políticas públicas esportivas eficazes sem levar em conta a evolução das idades, a mobilidade e a atratividade dos territórios? Clubes e associações não são meros locais de prática ou engajamento esportivo: são verdadeiros barômetros sociais, revelando as consequências concretas do desenvolvimento urbano, do envelhecimento populacional e do declínio da taxa de natalidade.
Quase 40% dos não nascimentos devem-se a restrições financeiras, às quais se juntam 21% ligadas ao desemprego e 19% a dificuldades de acesso à habitação (relatório " A verdadeira crise da fertilidade ", Fundo das Nações Unidas para a População, 2025).
Um modelo desigual de sociedadeÉ hora de levantar o véu sobre a questão demográfica. Esses dados devem emergir de relatórios estatísticos para alimentar a reflexão, orientar a ação e, acima de tudo, nos permitir antecipar. Isso é essencial para associações e empresas locais, mas também para tudo o que elas representam: laços sociais, engajamento e vida cívica.
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Le Monde